Romper o paradigma contra as pessoas com deficiência ainda é um tabu

“Quando olhamos para as pessoas em situação de rua, falamos que são pessoas usuárias de drogas; quando olhamos para as pessoas LGBT´s, pensamos que todas são promíscuas, e quando olhamos para as pessoas com deficiência, dizemos que todas elas não podem. O rótulo é uma coisa muito complexa no nosso cotidiano e se desvencilhar disso é muito difícil”, comenta a pedagoga Maria de Fátima e Silva.

Diante da fala da pedagoga é possível perceber que o preconceito contra nordestinos, imigrantes, negros, gays, lésbicas, travestis, transgenêros, pessoas em situação de rua e pessoas com deficiência são discriminadas pela sociedade.

A sua experiência mostra que o paradigma que a sociedade tem perante as diversidades existentes no mundo faz com que leis e ações sejam instituídas com o objetivo de protegê-las. “O respeito à diversidade é fundamental para constituir e promover a inclusão”, salienta Maria de Fátima.

A pedagoga milita há muitos anos na área de Inclusão de Pessoas com Deficiência e apoia o Espaço e Cidadania que tem como premissa debater políticas públicas voltadas para a igualdade de oportunidades. Para ela, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda é muito difícil.

“O reflexo dos paradigmas com relação às pessoas com deficiência é levado para o mundo do trabalho. Os processos de recrutamento e seleção guardam as maiores discriminações que temos na sociedade. O mundo corporativo deveria ter um olhar mais humanizado e de sustentabilidade para contratar uma pessoa com deficiência”, ressalta Maria de Fátima. Completa que a empresa é uma razão social e um CNPJ, porém, quem discrimina são as próprias pessoas que ocupam cargos e funções.

A pedagoga informa que no âmbito familiar mesmo tendo algumas dificuldades, existem as relações emocionais. Bem como, na educação, em que alguns aspectos ainda mesmo necessitando de ajustes, a linha é mais humanizada.

Já, no mundo do trabalho, é bem diferente. A exigência na produção, no foco e no cumprimento de metas vem crescendo a cada momento e exigindo mais dos trabalhadores. “Como trazemos para esse mundo esse olhar para o direito, o respeito e os potenciais de cada um, ou seja, de olhar para o outro como eu gostaria que olhassem para mim”, interroga Maria de Fátima.

Visão das empresas

A especialista quando palestra sobre a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho encontra uma rejeição, pois o mundo corporativo acredita que não é problema deles, mas somente do governo e dos familiares.

“A empresa não está fora do organismo da sociedade. Contudo, precisa compreender o seu papel de transformá-la”, frisa Silva.

Há 26 anos foi instituída a Lei de Cotas nº 8.213, com o sentido de garantir o direito das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. O Ministério do Trabalho, por meio de suas superintendências regionais desenvolve ações de fiscalização e de trabalhos de conscientização, para que as empresas com mais de 100 funcionários respeitem a Lei de Cotas.

A pedagoga cita também que em janeiro de 2016, foi regulamentada a Lei Brasileira de Inclusão de Pessoas com Deficiência nº 13.146 de 2015, a qual coloca em condições de igualdade para exercerem atos da vida civil.

História ao longo dos séculos

Maria de Fátima salienta que conforme observação do educador em direitos humanos, Reinaldo Bulgarelli, o padrão dominante é aquele eleito na consciência das pessoas, individual e coletivamente, com base na nossa história, nos costumes, nos aprendizados que herdamos das gerações passadas.

Ou seja, é considerado padrão dominante o homem branco, heterossexual, adulto, sem deficiência, saudável, magro, católico e entre outros.

Em um período da Idade Antiga, Idade Média e da Idade Moderna (século XV ao XVIII), excluía-se totalmente a pessoa com deficiência. De acordo com estudos, essas pessoas eram consideradas inválidas e, que diante disso, não poderiam exercer nenhuma atividade. Sobretudo, conviver no seio familiar ou com a sociedade, pois eram mantidas em hospitais, abrigos e prisões.

A pedagoga informa que na exclusão: “os semelhantes se aproximam e todos os que são considerados diferentes estão fora, cada um por si”; segregação: “os semelhantes se aproximam, enquanto os diferentes também se agrupam”; integração: “os diferentes estão no mesmo espaço físico, mas ainda assim separados. Exemplo: as classes especiais, que funcionavam no mesmo prédio escolar, mas em sala de aula separada”; inclusão: “todos juntos e misturados, no mesmo espaço físico”.

Com esse último pensamento, Maria de Fátima, informa que em 10 de dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) ressaltava que “todas as pessoas nascem livres e iguais em direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação uma à outra pessoa com espírito de fraternidade”.

“As características não definem quem eu sou, ou o meu caráter e competência profissional. São as nossas diferenças que fazem um mundo melhor”, enaltece a pedagoga.

Ao final da apresentação, a pedagoga informa que existe como parte do Programa Coexistir, um Guia de Capacitação para Profissionais que Atuam no Segmento Varejista Alimentícia com Programas de Inclusão. Trata-se de uma cartilha inédita e gratuita desenvolvida pelo Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo, em parceria com o Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, o intuito da publicação é apoiar os departamentos de Recursos Humanos (RH) na contratação de profissionais com deficiência, podendo ser utilizada por empresas de todos os setores.

A técnica Eliane Vainer Loeff da Coordenação de Educação (CEd), comenta que em um planeta que possui 7,6 bilhões de habitantes, se todos fossem iguais provavelmente não teríamos a riqueza da diversidade. No entanto, ela frisa que é fundamental respeitar a individualidade e peculiaridade de cada um.

“Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos não se pode ter discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião e outros. Nesse sentido, as empresas que adotam e incluem as pessoas com deficiência são empresas muito mais humanizadas. A pior barreira que a pessoa com deficiência enfrenta no seu dia a dia, não está ligada somente na barreira arquitetônica, mas, sim, na barreira atitudinal”, frisa Eliane.

Organização do evento e mesa de abertura

Eliane Loeff da (CEd), promoveu o evento sobre Diversidade e Inclusão: Qual é o seu Papel, no Centro Técnico Nacional da Fundacentro, realizado no dia 09 de agosto.

A mesa de abertura foi composta pela presidente da instituição, Leonice da Paz, e pela assessora da Diretoria Técnica, Tereza Luiza Ferreira Santos. A presidente parabeniza a iniciativa da Eliane Loeff e a palestra da pedagoga em abordar um tema importante para reflexão sobre no papel da sociedade em respeitar a diversidade.

“A Fundacentro completará 51 anos e, eventos desta envergadura e pessoas engajadas nessas causas, têm enaltecido a nossa instituição a nível nacional e internacional”, frisa Leonice.
Tereza Ferreira destaca as atividades realizadas pela Coordenação de Educação (CEd), que vem desde 2008, implementando temáticas sobre inclusão, pessoas com deficiência e lei de cotas. Para a assessora técnica, as temáticas sobre diversidade e inclusão precisam ser inseridas no mundo do trabalho.

“Este tema é totalmente pertinente, porque diversidade a gente vê no modo de produção, nas formas de estar no mundo, nas diversas pessoas e nas várias maneiras como as pessoas se comportam diante de um determinado tempo ou situação. Antigamente não se falava tanto de inclusão, hoje em dia é um tema importante porque existe a necessidade de conviver com as diferenças”, salienta Tereza. Ela ainda ressalta sobre as questões de exclusão e inclusão. “A inclusão fazemos com políticas, mas também fazemos com mudanças de comportamento”, explana.

Fonte: Fundacentro

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